VOGUE – Editorial novembro 2019 | Twin Souls

“He felt now that he was not simply close to her, but that he did not know where he ended and she began.” Leo Tolstoy

Fotografia Thomas Goldblum. Realização de Nelly Gonçalves.

Fotografia Thomas Goldblum. Realização de Nelly Gonçalves.

Defende-se que o segredo do amor é abandonar o mito da “pessoa certa” – e, no entanto, a noção de uma alma gémea é irresistivelmente atraente para quase todos nós. Seguramente que meio mundo persegue esta ideia com uma ambição notável, ao ponto de tentarmos calcular as hipóteses de encontrar alguém especial, aquele espelho humano inestimável que destruirá o nosso ego, revelará os seus defeitos e vícios, quebrará o seu coração para que uma nova luz e, a felicidade plena, possam entrar. Mas num mundo de 7.6 mil milhões de habitantes, qual é a probabilidade de cada um de nós encontrar esse outro ser mítico?

Fotografia de Alessandro Esposito. Realização de Pablo Patanè

Fotografia de Alessandro Esposito. Realização de Pablo Patanè

Ninguém sabe, mas seguramente não será na aritmética que reside a resposta para um milhão de anseios. Talvez a resposta nem sequer exista, porque há existências que não se dizem por não caberem em palavras. Talvez alma gémea não seja quem nos faz sentir mais feliz… mas sim quem nos faz, apenas, sentir. Uma ligação incendiária, semelhante a vazios gelados e plenitudes inimagináveis, cicatrizes e dores antigas, deslumbre de descoberta, rendição e beleza, pressa e calma, tensão e paz, raiva e desejo, doçura e loucura, todo o sentido do mundo e a toda a falta dele, revolta e aceitação, perdão, limites… e amor. Amor incondicional. Tudo o que nos pode atirar para um abismo, mas sempre com um sabor a esperança.

Fotografia de David Ajkai. Realização Lisa Jarvis.

Fotografia de David Ajkai. Realização Lisa Jarvis.

Se se cresce, vive, ou envelhece com alguém, passa-se por uma imensidão de papéis – amante, amigo, inimigo, colega, estranho, irmão, irmã. E é isso que é intimidade, se alguma vez tivermos a sorte de estar com a nossa alma gémea. O nosso desejo paradoxal de intimidade e independência é uma força magnética – que nos puxa para a união e, ao mesmo tempo, nos repele com um íman poderoso que, se usado desastrosamente, pode romper um relacionamento e partir um coração. Sob esse magnetismo implacável, torna-se um ato de força sobre-humana e autotranscendência dar espaço ao outro quando tudo o que se quer é proximidade. E, no entanto, esse ato difícil pode ser talvez a única coisa que salva repetidamente um relacionamento, uma ligação especial – seja ela passional, afetiva, familiar ou profissional.

Fotografia de Vanessa Zican. Realização de Natalia Zemliakova

Fotografia de Vanessa Zican. Realização de Natalia Zemliakova

A sociedade tem tendência a fazer múltiplos – sejam casais, sejam gémeos, trigémeos ou qualquer outra coisa. E nem sempre é justo. Os “múltiplos” terão sempre que abraçar a sua singularidade individual porque, assim como são uma unidade incrível juntos, isso só pode acontecer quando se é forte individualmente. Porque antes de encontrarmos, verdadeiramente, a nossa alma gémea, há que encontrar, antes de mais, a nossa própria alma.

VOGUE – Editorial novembro 2019 | Twin Souls

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